Nativos Digitais X Imigrantes Digitais

Análise do artigo “Saber Digital e suas Urgências: reflexões sobre imigrantes e nativos digitais

Centro de Cultura Digital "Estela de Luz" (Cidade do México, México, 2012)

O presente artigo propõe uma discussão acerca do surgimento de uma nova geração de indivíduos que se desenvolveu em um contexto histórico de grandes inovações tecnológicas, sobretudo as Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs), denominados “nativos digitais”. O texto faz uma reflexão entre saberes dos “nativos digitais” em comparação aos “imigrantes digitais”, termo utilizado para designar aqueles indivíduos que possuem um acesso tardio às tecnologias digitais e que, portanto, precisam, na maioria das vezes, passar por um processo de adaptação. Ademais, os autores discutem, também, políticas educacionais brasileiras voltadas para uma educação digital que contemple desde a formação de professores até a implementação de tecnologias digitais em escolas. 

Canal: Cultura Digital

De acordo com Coelho, Costa, Mattar Neto (2018), é necessário utilizar um viés de caráter semiótico para definir os conceitos de nativos e imigrantes digitais, em detrimento da análise do senso comum que diferencia gerações apenas pela relação espaço-temporal. Os autores partem da premissa de que os meios de comunicação digital afetam e transformam nossos comportamentos, através das percepções sensoriais. A “Era do Digital” é o “caldo sociocultural” que define todo o processo de ensino-aprendizagem com novos modos de pensar e organizar as linguagens. (apud MCLUHAN, 1964). A internet, por exemplo, transformou nossas práticas sociais. A criação de conteúdo não é realizada de “um para muitos”, mas de “todos para todos” e o “consumidor passa a ser também produtor” (apud TURIBA, 2012). A chamada Geração Y (ou millennials, indivíduos nascidos a partir de 1980) constituem os chamados “nativos digitais” que impõem sua cultura digital nos mais diversos segmentos da sociedade. A linguagem digital (smartphones, televisão digital, pendrive, internet sem fio entre outros) redefine, portanto, uma nova língua a ser apreendida pelos imigrantes digitais, que convivem com os nativos em um mesmo espaço-tempo (apud PRENSKY, 2008).

Centro de Cultura Digital Estela de Luz (Cidade do México, México, 2012)

Esse conflito geracional nos leva a pensar de maneira automática que os nativos são os jovens e os mais velhos são os imigrantes e que, assim sendo, em poucos anos, os nativos serão maioria e o sistema educacional estaria livre da linguagem analógica do século passado. No entanto, a exclusão digital de parte da população brasileira denuncia uma heterogeneidade do uso das TICs em contexto educacional. Segundo os autores, o governo brasileiro vem se esforçando, nas últimas décadas, para ampliar o acesso à internet e às tecnologias digitais nas unidades escolares. Quatro programas do governo federal para o fomento à qualidade da educação são destacados: o Programa Nacional de Tecnologia Educacional (PROINFO) que consistiu na construção e manutenção de laboratórios de informática em escolas públicas do país; o Programa Mais Educação – programa de ampliação da jornada escolar que, entre outras funções, difundiu a cultural digital nas escolas; o Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (PARFOR), que tem o objetivo de aumentar a “oferta de Educação Superior, gratuita e de qualidade, para professores em exercício na rede pública de Educação Básica”; e a Universidade Aberta do Brasil (UAB), que incentivou universidades públicas a oferecer formação inicial e continuada para professores da Educação Básica na modalidade à distância (COELHO; COSTA; MATTAR NETO, 2018). Em todos esses programas, seja para formação docente ou discente, as TICs devem estar presentes, pois o processo de construção do conhecimento dos “nativos digitais” está atrelado às tecnologias digitais. 

Canal: Felipe Carriço Dal'Col

Por fim, os autores propõem a superação da divisão das categorias “nativos” e “imigrantes” digitais e, em substituição, a criação de uma gradação escalar de “sabedoria digital”, que independe da data de nascimento (apud PRENSKY, 2001). Com o decorrer do tempo e com a interação entre ambos, a diferença entre nativos e imigrantes tende a diminuir. Os autores alertam que os alunos são, em sua maioria, nativos digitais, e os professores formados por um grupo heterogêneo de nativos e imigrantes digitais mais ou menos interativos e participativos no uso das TICs. Com isso, nativos digitais têm um “envolvimento mais sensível com o saber digital, portanto sua interação com a cultura digital é mais da ordem do sensível do que do inteligível”. Em outras palavras, o nativo nasceu na cultura digital, o que facilita a construção de saberes em termos de intensidade. Por outro lado, os imigrantes digitais não nasceram na cultura digital e seu envolvimento tende a “ser mais da ordem do inteligível do que do sensível”, ou seja, o imigrante digital precisa buscar entender as TICs para ampliar os seus saberes (COELHO; COSTA; MATTAR NETO, 2018). 

REFERÊNCIA

COELHO, Patricia Margarida Farias; COSTA, Marcos Rogério Martins; MATTAR NETO, João Augusto. Saber Digital e suas Urgências: reflexões sobre imigrantes e nativos digitais. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 43, n. 3, p. 1077-1094, jul./set. 2018. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/edreal/v43n3/2175-6236-edreal-2175-623674528.pdf>. Acesso em: 15 abr. 2020.

Comentários

  1. Eu me considero imigrante, não cresci com um computador na mão. Mas hoje sou bem dependente da tecnologia.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

aSc Timetables - Monte seu Horário Escolar